A atmosfera de trabalho dentro da sala de aula: uma escala de dez níveis
A escala foi concebida para encorajar os futuros professores a pensar sobre o grau em que os professores exercem um controlo relaxado e assegurado da sala de aula e podem desfrutar de ensinar, assim como até que ponto os alunos têm o “direito de aprender”, sem ruído e interrupções por parte dos colegas. Não foi concebida como um instrumento para julgar a capacidade do professor em gerir a classe (em especial porque existem tantas outras variáveis que influenciam esses níveis – um deles obviamente é a escola onde o professor trabalha). O objectivo é fazer com que os futuros professores (e professores, departamentos e escolas) pensem sobre os factores que influenciam a atmosfera de trabalho na sala de aula, a influência do ambiente de trabalho nas salas de aula sobre o ensino e a aprendizagem e a igualdade de oportunidades em torno da tensão entre inclusão e situações em que alguns alunos podem prejudicar a aprendizagem dos outros.
Nível 10 | O professor sente-se completamente relaxado e confortável. Capaz de realizar qualquer tipo de actividade na aula sem preocupação. O “controlo da classe” não é realmente um problema – o professor e os alunos trabalham juntos, aproveitam as experiências em conjunto. |
Nível 9 | O professor sente-se completamente em controlo da classe e pode realizar qualquer tipo de actividade na sala de aula, mas precisa por vezes exercitar algum tipo de controlo / autoridade para manter uma atmosfera de trabalho tranquila e objectiva. Tal pode ser feito de forma amigável e relaxada, com apenas um lembrete gentil. |
Nível 8 | O professor pode estabelecer e manter uma atmosfera de trabalho relaxada e cooperativa e realizar qualquer tipo de actividade na sala de aula, mas isso exige por vezes uma quantidade considerável de atenção e esforço por parte do professor. Algumas actividades podem ser menos tranquilas e controladas do que outras. |
Nível 7 | O professor pode executar qualquer tipo de actividade na aula mas a classe pode ser bastante “espalhafatosa” e barulhenta. Pode haver algumas instâncias onde alguns alunos causam problemas durante a lição, mas eles param quando lhes é pedido. Os alunos não cometem excessos para irritar o professor nem desafiam a autoridade do professor. |
Nível 6 | O professor realmente não está ansioso para ensinar a classe, muitas das vezes é necessário um grande esforço para estabelecer e manter uma atmosfera relaxada e calma. Vários alunos não terminam as tarefas sem vigilância / exortação / ameaças persistentes. Às vezes, o professor sente-se assediado, e no final da lição sente-se bastante esgotado. Em algumas ocasiões o professor sabe que é mais sábio não tentar certos tipos de actividades com os alunos a fim de tentar manter as coisas sob controlo. Às vezes, é difícil manter os alunos em silêncio enquanto o professor fala, ou evitar que eles interrompam o professor, ou que falem uns com os outros à vontade, mas apesar disso, ninguém desafia directamente a autoridade do professor nem existem recusas ou grandes interrupções. |
Nível 5 | Há momentos durante a lição em que o professor acha constrangedor ou sente-se envergonhado se um director, um governador ou um inspector entrar na sala, porque o seu controle da classe é limitado. A atmosfera mostra-se por vezes bastante caótica, com vários alunos que manifestamente ignoram as instruções do professor. Alguns dos alunos desafiam a autoridade do professor por concordar de forma dilatória ou desnecessária com instruções e pedidos. O formato da lição é limitado por esses factores. Há certos tipos de lição que o professor não arriscaria porque sabe que eles seriam barulhentos e caóticos, mas em última instância, não há recusa aberta, nem grandes barbaridades, apenas falta de intento e calma. Os alunos que desejam trabalhar continuam a trabalhar embora num ambiente bastante ruidoso. |
Nível 4 | O professor aceita que o seu controle é limitado. É necessário tempo e esforço para que a classe ouça as instruções do professor. O professor dá início à planilha / parte escrita da lição com bastante rapidez para “os controlar”. A preparação da lição é mais influenciada pelos factores de controlo e do “passar do tempo” do que por factores educacionais. Os alunos falam ao mesmo tempo que o professor, cometem pequenas transgressões (sem caneta, sem caderno, distraindo os outros falando) ficam impunes, porque estão a acontecer várias coisas ao mesmo tempo para que o professor possa reagir a tudo. O professor sente-se relutante em castigar os responsáveis porque pensa que isso pode aumentar os problemas. O professor tenta “manter as coisas sob controlo” e concentra-se nos alunos que estão a tentar continuar os trabalhos. |
Nível 3 | O professor tem pavor de pensar na lição. Haverá grandes distúrbios, muitos dos alunos vão prestar pouca ou nenhuma atenção à presença do professor na sala. Mesmo os alunos que querem trabalhar terão dificuldade em fazê-lo. Pode não haver controlo de quem diz palavrões, os alunos caminham pela sala à vontade. O professor sente-se relutante em lidar com transgressões porque perdeu a confiança. Quando o professor escreve no quadro, os alunos atiram objectos ao redor da sala. O professor deseja que a aula termine para sair da sala. |
Nível 2 | Os alunos determinam em grande parte o que irá acontecer na aula. O professor traz materiais para a lição como uma fonte de informação mas uma vez distribuídos, estes serão ignorados, desenhos feitos neles ou transformados em aviões de papel. Quando o professor escreve no quadro, os alunos atiram objectos ao professor em vez de ao redor da sala. O professor entra na sala de aula com esperança que os alunos estejam de bom humor e o deixem em paz e simplesmente conversem uns com os outros. |
Nível 1 | A entrada do professor na sala de aula é recebida com chacota e abusos. Existem tantas transgressões das regras e o que constitui um comportamento razoável que é difícil saber por onde começar. O professor faz vista grossa a algumas barbaridades porque sente que a sua intervenção pode levar a uma confrontação, rejeição ou agravação do problema. Tal torna-se difícil porque alguns alunos estão deliberadamente a cometer barbaridades simplesmente para se divertirem. O professor deseja nunca ter decidido tornar-se professor. |
A gestão da sala de aula é um elemento importante do processo de ensino e aprendizagem, a qual tem um impacto nos padrões de realização, motivação dos alunos e na qualidade da vida profissional dos professores. Esta foi a preocupação mais importante citada pelos futuros professores e pelos professores recém-licenciados, e é uma questão importante e problemática (embora em graus variados) na maioria das escolas do Reino Unido.
Deve salientar-se que existem muitas escolas onde não se encontram os níveis mais baixos da escala (mas continua a ser importante lembrar que existem escolas e salas de aula onde os níveis mais baixos existem). Embora os relatórios recentes do Ofsted sugiram que o comportamento dos alunos não é satisfatório em menos de uma em cada dez escolas secundárias, a minha pesquisa sugere que o défice na atmosfera de trabalho é muito mais predominante do que o sugerido, e que existem muitas escolas nas quais os níveis podem variar entre pelo menos o nível 10 e o nível 5.
É improvável que os professores passem todo o ano de pós-graduação numa escola onde a atmosfera de trabalho está sempre no nível 10 com todos os seus grupos de ensino. Não existem apenas diferenças entre as escolas em termos de ambiente de trabalho na sala de aula, geralmente existem diferenças nas escolas – os professores podem fazer uma diferença.
Vale a pena investir bastante tempo, atenção e trabalho nesta área, porque isso faz uma grande diferença no quão o professor irá desfrutar de ensinar. Há poucas coisas na vida profissional menos construtivas do que estar de facto trancado numa sala de aula com 30 crianças que não estão totalmente sob controlo. Estes são alguns dos comentários de professores que entrevistei recentemente sobre ensinar nos níveis 9 e 10 na escala:
‘Não posso deixar de salientar o quão agradável é ensinar uma classe bem comportada. Na realidade, permite-nos simplesmente baixar a nossa guarda e ficar deveras descontraídos. Eu desfrutei da classe e os alunos também… podia ver-se.’
(Estagiário)
‘Terminamos a aula com um óptimo sentimento. Sabemos que os alunos nos respeitam, que nos avaliam e que pensam que somos bons professores.’
(Professora recém-licenciada)
‘Na realidade, o ensino torna-se melhor quando lidamos nos níveis 9 e 10… a apresentação é mais fluida, podemos improvisar… parece que temos mais boas ideias do que costume porque não temos que nos preocupar com controlo e supervisão. Sentimos uma pequena satisfação e podemos relaxar e assumir mais riscos.’
(Professor com experiência)
‘À medida que ando pela sala de aula, ou olho pela janela, penso para mim mesma que não existem muitas pessoas que têm um trabalho tão gratificante e agradável quanto este.’
(Professor com experiência)
‘Em termos do quanto usufruímos de ensinar depende enormemente se operamos nos níveis 7 e 8… que são bons… não existem grandes complicações… e ao nível 10, onde o trabalho é fantástico e um enorme prazer… conseguimos tirar uma enorme satisfação da interacção com os alunos. É como os anúncios para ser professor que vemos na televisão, mas na vida real.’
(Professora recém-licenciada)
Muitas das decisões a tomar nesta área dependem do contexto. Existem muito poucas estratégias, se algumas, que garantam em primeiro lugar trabalhar com cada aluno, com todas as classes, em termos de como mantê-los quietos, como lidar com a situação quando o professor não tem o controlo completo, em que circunstancias expulsar um aluno da aula, e assim por diante. O professor tem que pensar, aprender e trabalhar para alcançar a maior mestria possível – acima de tudo, trata-se de “ser um bom aprendiz”, da sua própria experiência, dos conselhos, leitura e observação de pessoas bem-sucedidas nesta área (embora seja também possível aprender com más práticas). É útil ter uma mente aberta e estar preparado para testar ideias e teorias sobre o comportamento dos alunos mesmo quando essas vão contra a nossa própria experiência.